Estudo Introdutório às 95 Teses de
Martinho Lutero
Alexander Martins Vianna
Segundo a tradição luterana que
celebra a persona Lutero (1483-1546), as “95 Teses”
foram afixadas na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg
em 31 de outubro de 1517. Se este ato, recorrentemente
celebrado como fundador da Reforma Luterana, realmente
aconteceu, não teria, em si mesmo, nada de excepcional: na
verdade, isso era um modo costumeiro de se anunciar uma “disputa”
ou “justa teológica” entre os doutos de
Wittenberg. Portanto, não se tratava de uma ação que deveria
ter uma conotação individual, visto que as disputas
eram debates que envolviam professores e estudantes. Isso
explica o fato de Lutero pedir para aqueles que não pudessem
se fazer presentes à disputa que, ao menos,
enviassem as suas opiniões por escrito para serem lidas.
Afinal, segundo as regras da eloqüência, as “teses” deveriam
ser vistas como “pontos a serem debatidos” em uma plenária
de doutos.
Nesse sentido, trata-se de um
ato público envolvendo doutos e/ou seus estudantes, como
demonstra o fato de as teses terem sido escritas
originalmente em latim e não em alemão (língua familiar de
Lutero). Observa-se também que o tom irônico e uma certa
preocupação com a métrica e a rima fazem parte do ritual de
“belo discurso” (arte da retórica) – conhecimento
obrigatório nas universidades de teologia e direito da época
de Lutero. Portanto, ao lançar as suas “95 Teses”,
Lutero tornava públicas (mas não populares) as
suas idéias, com a finalidade de expor a doutos algumas
questões que o incomodavam a respeito das “vendas de
perdão/indulgências”, cujas contradições práticas e
doutrinais, somadas à corrupção de determinados setores do
clero, eram vistas por ele como uma ameaça à credibilidade
da fé cristã e da Igreja de Roma.
Isso significa que, ao
tornar públicas as suas teses, Lutero esperava receber o
apoio do papa, em vez de sua censura. No entanto, depois de
novas disputas teológicas, desta vez com agentes enviados
pelo Papa Leão X (1475-1521; pontificado: 1513-1521),
foi redigida contra Lutero uma carta de excomunhão datada em
21 de janeiro de 1521, que ele receberia meses depois.
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