Prejuízo realizado
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Das 26 capitais onde há eleição municipal as pesquisas
mostram o PT na dianteira folgada apenas em Goiânia e com chance maior ou menor
de ir ao segundo turno em outras seis.
Apesar de todos os reclamos sobre a coincidência entre o
julgamento e o período eleitoral, tal placar não pode ser atribuído a prejuízos
decorrentes do exame do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.
Primeiro porque o partido do poder já entrou mal na disputa,
antes do início das audiências. Em segundo lugar, porque as mexidas mais
importantes nos últimos números não autorizam qualquer conexão entre uma coisa
e outra.
Em São Paulo, o petista Fernando Haddad subiu
significativamente ao ponto de se tornar competitivo a uma vaga no segundo
turno e ainda aparecer como vencedor na simulação de uma disputa com o tucano
José Serra.
Movimento registrado ainda sob o calor da condenação de João
Paulo Cunha e da veemente recusa da tese do caixa 2 como argumento de defesa.
A outra alteração importante apontada nas pesquisas foi a
deslanchada do candidato do PSB à prefeitura do Recife, que tirou da liderança
o petista Humberto Costa. Deve-se exclusivamente ao empenho pessoal do
governador Eduardo Campos.
Causa mais plausível do desempenho aquém do razoável para o
PT nas capitais parece ser a perda gradativa do eleitorado urbano, instruído e
politizado, hoje acentuadamente substituído pela clientela dos programas sociais.
Nessa mudança de perfil haveria, sim, uma conexão com o
mensalão. Não por causa do julgamento, mas pelo fato de ser o registro mais
visível do conjunto da obra desde que o PT decidiu trocar a defesa da ética na
política pela bandeira da permissividade no trato do aparelho estatal.
Para 2013. Se a presidente Dilma Rousseff levou seis meses
para indicar Rosa Weber ao Supremo em condições, digamos, normais de
temperatura, não seria lógico pensar que indique substituto para a vaga do
ministro Cezar Peluso no meio da confusão.
Ainda que o fizesse, o nome teria de passar pelo crivo do
Senado em "recesso" eleitoral até meados de outubro quando o
julgamento, se não tiver acabado, terá ido longe demais para aceitar o embarque
de novatos.
Vencidos. A decisão sobre a metodologia da imputação de penas
evidentemente será do colegiado, mas o presidente do STF, Ayres Britto, antes
do início do julgamento manifestava o seguinte entendimento a respeito: quem
acompanha o relator pela condenação tende a acompanhá-lo também na chamada
"dosimetria".
Na visão dele, quem opta pela absolvição ficando vencido
ainda assim precisaria escolher uma punição. Pela lógica escolheria a pena
mínima.
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