iG: Como o sr. analisa
o seu envolvimento com a política?
Silas Malafaia: A vida
é resultado do que construímos ao longo do tempo. A gente se posiciona e corre
riscos, põe a cara para bater. O povo evangélico vem amadurecendo. Estou há
muito tempo na mídia, e conquistei credibilidade com os evangélicos. Uma parte
acata e considera o que eu digo.
iG: O sr. gosta de
participar dessa embate, não é?
Silas Malafaia:
Gooosto! Eu nunca vou ser candidato a nada, pode anotar aí! Nada, nada, nada!
Agora, tenho a convicção, aquilo que sou, como pastor, como um dos líderes de
um segmento, acredito que fui levantado para influenciar. Então, vou
influenciar o máximo que puder. Ser (político), nunca, mas influenciar, sempre!
iG: Quantos candidatos
o sr. apoiou nessas eleições?
Silas Malafaia: Apoiei
18 caras a vereador, 16 foram eleitos. Em Porto Alegre, quando cheguei para
apoiar (José) Fortunati (prefeito eleito), estava empate técnico com a Manuela
Dávila. Dei uma força, lá em Porto Alegre tem muito evangélico. Ele pediu:
‘Grava aqui para o TRE.’ Fiz um áudio e pus na porta da igreja. Não digo que
ganhei mas ajudei a ganhar. O Ratinho Jr., conheço o pai dele, que me pediu
ajuda. ‘Dá uma palavra para os evangélicos’. Em São Paulo, entrei aos 45
minutos, no dia 1º. Serra me ligou para agradecer.
No Rio, apoiei 25
candidatos a prefeito. Cinco perderam, 18 foram eleitos, e dois estão no
segundo turno. Podia ter apoiado 200 caras que vieram encher meu saco. Mas
política é muito desgastante, ao botar minha cara, para muita gente, corro
muito risco. Se um cara desses faz besteira, acabo chamuscado. Falei muito
'não'.
iG: O sr. considera que
os evangélicos devem participar de forma ativa, como grupo político?
Silas Malafaia: Como os
evangélicos começaram a ser um segmento importante, o pessoal entende o
seguinte: se ateu, marxista, filósofo, operário pode dar opinião, por que não
posso dar? Falam tanto que somos fundamentalistas, retrógrados... O que não
posso dizer é que a igreja apoia (determinado candidato). Isso não digo. Não
suporto negócio de que a igreja apoia! Sou eu, que sou cidadão que apoio. Temos
de nos fazer representar. Na Bíblia, Jesus não anulou a cidadania terrena.
iG: E como é que o sr.
pede voto para os candidatos?
Silas Malafaia: Falo em
tudo o que é lugar: ‘Você é livre para votar em quem quiser. Não tem anjo
contratado pelo pastor para fiscalizar e dedurar em quem votou.’ Quando digo
isso, estou respeitando o direito da pessoa, dona do voto. Ganho muito mais do
que se dissesse: ‘Vote aqui!’ Digo: ‘Se não tem candidato, tenho Alexandre
Izquierdo (vereador eleito, com 33.. Mas o voto é seu e vote em quem quiser.
Não é ostensivo, mas muito pontual. Se encher o saco, fizer apelo espiritual...
Não digo: ‘Este é o candidato de Deus, o resto é do diabo!’
iG: Em muitas igrejas,
como a Universal, o pedido de voto é explícito. O sr. faz isso também?
Silas Malafaia: A
Universal já teve sete deputados estaduais (no Rio), cinco federais e quatro
vereadores. Agora elegeu três vereadores. O caso do Bispo Rodrigues (deputado
federal cassado, ex-líder político nacional da Universal, condenado no
Mensalão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro) foi uma paulada
violenta. Mas tem a questão da maneira ostensiva de pedir voto. O mais difícil
não é fazer o povo acreditar, é fazê-lo se manter acreditando é a história.
Pode-se manipular as pessoas por um tempo, mas não o tempo todo. Eu explico
para as pessoas que podem votar em um e eleger outro. ‘Se você vota em alguém
sem chance elege o outro (devido ao quociente eleitoral, número mínimo de votos
de uma coligação para eleger cada vereador ou deputado). Ensino como funciona o
voto majoritário. A maneira didática ajuda muito mais que impor (voto).
iG: Quem é Alexandre
Izquierdo, vereador eleito no Rio com seu apoio?
Silas Malafaia: Ele foi
líder da Juventude da igreja, é obreiro. É muito preparado intelectualmente.
Aí, perguntei a ele: ‘Quer ser pastor ou político?’ Ele disse: ‘Tenho vontade
de alcançar posições na política’. Aí decidi: ‘Vou investir nele! E falei (para
os fiéis): ‘Se não tem candidato, tenho Alexandre Izquierdo. Mas o voto é seu,
vote em quem quiser.
iG: O sr. acha que
ainda há preconceito contra a participação de evangélicos na política?
Silas Malafaia: Tem
muito preconceito contra os evangélicos. Acham que evangélico é
seminanalfabeto, primário, babaca, tapado, idiota. Nego esta por fora! Na minha
igreja, tem desembargadores, devo ter pelo menos 14 caras com doutorado ou
cursando doutorado. Claro que eu tenho gente pobre na igreja, porque é o
estrato social! Eu lancei um desafio para a garotada: o primeiro que passar
para Harvard (uma das melhores universidades do mundo) a igreja banca todo o
curso. Para motivar!
Essa ideia de que
evangélico é babaca, semianalfabeto, tapado, idiota, eu até fico rindo! É o
estrato da sociedade. Mas a igreja tem classe média. Hoje em dia pensar: ‘Ah, é
bobinho, é curral de pastor!’ Vai lá! Vai nessa! Não tenho nada contra, mas vou
te dar um número: se o povo da Universal fosse curral deles, eles elegeriam
oito vereadores. Curral é o escambau! Se a Universal fosse curral, seriam oito
vereadores (no Rio), não três!
Acham que os
evangélicos são um bando de bobos, otários. Nego está por fora! Depois do
advento da internet não tem mais bobo. O segmento social que mais usa a
internet e as redes sociais são os evangélicos.
iG: O sr. também já
apoiou deputados federais eleitos.
Silas Malafaia: Botei a
minha cara para três caboclos, que foram eleitos federais. Ajudei a eleger três
deputados federais do Rio. O Neilson Mulim (candidato a prefeito no segundo
turno em São Gonçalo), Filipe Pereira, filho do pastor Everaldo Pereira, que
foi o mais forte, que mais botei a cara, e o outro de Duque de Caxias, da
Igreja Metodista, que teve 28 mil votos (Áureo Lídio Ribeiro)... Esqueci o nome
dele, sou ruim de nome! E o Filipe, com todo o respeito, se eu não boto a
cara... Nenhum dos três é da minha igreja. São evangélicos, mas não são da
minha igreja. Não precisa ser da minha igreja, não. Só meu irmão (Samuel
Malafaia, deputado estadual no Rio, pelo PSD) é.
iG: De que maneira o
sr. faz propaganda para eles?
Silas Malafaia: Tenho
uma mala-direta de pessoas que compram comigo materiais, muito poderosa! É
gente que compra materiais meus. E essa mala é muito, muito muito poderosa.
Tenho 180 mil nomes no Estado, sendo 60 mil na capital. Tanto é que meu irmão –
e nós botamos no programa de computador – teve votação em cidades onde não
botou o pé, nem lá foi. Aí você olha na minha mala direta e tem gente lá. Teve
135 mil votos.
iG: Foi o terceiro mais
votado, só atrás de Wagner Montes (528.628 votos, a maior votação do País) e do
Marcelo Freixo (em 2010, o agora candidato derrotado à Prefeitura do Rio teve
177.253 votos para deputado estadual)?
Silas Malafaia: É,
atrás de dois caras que... pelo amor de Deus! Um com a máquina da televisão (Montes)
e outro com a imprensa dando corda para ele (Freixo). Aí não teve jeito! Não
tem isso de ser mais votado. Eu quero, sim, que o cara que eu apoie para
deputado não entre na rabeira, que entre. Se está entrando no meio ou na
cabeça, quero que entre!
iG: E o que o senhor
espera desses candidatos, uma vez eleitos?
Silas Malafaia: Espero
que, primeiro, aprendam que estão lá não porque foram colocados para defender
interesses dos evangélicos. Estão lá para cumprir um princípio do que acreditam
da Bíblia, pela justiça social, para abençoar o necessitado. Não ser a favor de
lei que prejudique os mais humildes, eles sabem disso, não são malucos! Segundo
ponto é honrar o nome de quem lhes emprestou o nome, que sou eu. Eu digo para
eles: ‘Amigão, não pisa (na bola) não, que se pisar, quem vai dar com o
sarrafo, sou eu!’
Malafaia tem atacado
Haddad, que define como "autor do kit-gay"
iG: E se eles fizerem
algo errado?
Silas Malafaia: Eles
sabem que quem vai dar o primeiro sarrafo neles sou eu! Meu nome não está à
venda, por ninguém, meu irmão inclusive, meu nome não está à venda para
ninguém! A Bíblia já dizia que mais vale o bom nome do que muitas riquezas.
Então se um cara desses fizer besteira, vou sacudir em cima dele.
iG: Já teve algum caso
desse gênero?
Silas Malafaia: Graças
ao bom Deus, não, espero que não tenha! Porque se tiver, meu filho, eu não vou
ter pena, eles me conhecem e sabem que sou capaz de fazer mesmo. Eu vou queimar
meu nome porque nego está fazendo besteira? Eu não! Eu largo o aço em cima
deles! Mas não vou ter pena e estão avisados. Vou queimar (o político)! Largo o
aço em cima!
iG: Como assim, larga o
aço???
Silas Malafaia: É, eu
meto o pau! Digo aí: ‘Não vota mais não!’ Vou botar para quebrar em cima! Isso
aí não tem dúvida nenhuma, amigo! Não tem moleza!
iG: E que contrapartida
o sr. pede a eles?
Silas Malafaia: Peço
que representem o povo que deu o voto a eles, a honra e o nome. Amigo, nem na
época que podia empregar parente... nunca pedi para nomear ninguém. E eu tenho
uma família grande para caramba, irmão. Nunca pedi nada, não quero saber disso,
negócio de nomear parente. Na verdade, na época da eleição, o prefeito ou
governador, bajulam todo mundo para ganhar. Quando são eleitos, durante os
quatro anos, essa aqui é que é a verdade, amigo: “Quem é esse cara aí? Elegeu
quem?” Então, para eles te atenderem, você tem de mostrar que você tem força
política! Senão é mais um no bolo! E aí, o que acontece?
Você elege cara com boa
votação, quando vier coisa de molecagem contra os nossos princípios, a gente tem
voz para pressionar. É esse que é o jogo. Isso é o que eu faço. Não tem
conversa: “Vai fazer essa lei aí? Vai? Então vai ver se vai ter o meu apoio!”
Você vê, tanta coisa foi freada aí, em âmbito federal e tudo, por medo de nossa
comunidade. Porque sabem que vamos abrir a boca. Essa é que é a verdade, nua e
crua.
iG: O sr. tem contato
direto com prefeitos e governadores.
Silas Malafaia: Ah,
tenho! O Eduardo (Paes) me ligou hoje cedinho. Eu estava me preparando para ir
para São Paulo, o telefone tocou. Eu disse: ‘Vou ligar para esse cara terça ou
quarta-feira. Muita gente liga para dar parabens, tal e coisa. Aí hoje ele se
antecipou. Me ligou cedinho. Eu tinha ligado o telefone. ‘Oi, aqui é o Eduardo,
quero agradecer seu apoio. Conte comigo!’ O Eduardo é simples. Espero que não
seja mordido por mosca azul, não fique besta... É um cara muito legal. Eu gosto
muito dele.
iG: E com o Serra, como
foi a conversa?
Silas Malafaia: Eu acho
que a chance está com ele. O Mensalão vai ter um peso para o PT, vai bater na
porta deles. De algum jeito... A classe média não atura isso não. Não dá para
dar Bolsa Família para todo mundo, não. Não dá para comprar todo mundo com comida,
não.
iG: Como será seu apoio
a ele?
Silas Malafaia: Disse
para o Serra hoje. Falei: “Serra, todo mundo já sabe que eu te apoio. Não
precisa fazer nada ostensivo. Não gosto de nada ostensivo, para ser honesto. Sou
mais um dentre tantos, seja católico, evangélico. Eu quero isso, não quero que
ache que sou o máximo, sou mais um entre tantos.
iG: Vai gravar vídeo de
apoio para ele na TV?
Silas Malafaia: Não, eu
acho que não precisa, para te ser honesto. Eu disse ao Serra : ‘Todo
mundo já sabe que eu te apoio. Não precisa de nada ostensivo. Eu não gosto de
nada ostensivo.' Sou mais um entre tantos, católicos, evangélicos. Eu quero
isso! Não acho que sou o máximo, sou mais um entre tantos, não preciso de tanta
firula, não. Acho que não precisa gravar (programa na TV), para ser honesto.
(Nesta quinta-feira, 11, ele publicou vídeo contra o adversário de Serra,
Fernando Haddad) Quando fica muito acintoso não é bom. Sabe: ‘Você é candidato
de todos, sabe?’ Eu não acho que seja necessário gravar. O povo em São Paulo é
muito maduro, esta percebendo todo esse jogo.
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